O impacto emocional da Perturbação do Desenvolvimento da Linguagem (PDL)
- SpeechCare
- 30 de set.
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A Perturbação do Desenvolvimento da Linguagem (PDL) – designação atualmente utilizada em substituição do termo antigo Perturbação Específica da Linguagem (PEL) - é uma condição do neurodesenvolvimento, de carácter permanente e não visível, que afeta cerca de 1 em cada 14 crianças.
Manifesta-se na forma como a criança compreende e/ou expressa linguagem na sua modalidade oral e escrita (leitura e escrita), sem que haja uma causa identificável, como défice intelectual, perda auditiva ou condições neurológicas específicas.
Caso a PDL não seja identificada precocemente pode ter impacto nas aprendizagens, nas amizades e no bem-estar emocional.

Sabemos que a linguagem é muito mais do que uma ferramenta para comunicar. É também um veículo para entender e regular emoções, construir relações sociais, desenvolver autoestima e explicar o que sentimos. Quando há uma perturbação na linguagem, é frequente observarmos também um impacto emocional e social.
Quando falamos em Perturbação do Desenvolvimento da Linguagem (PDL), muitas vezes o foco está nas palavras: como a criança fala, se troca alguns sons por outros, se constrói frases corretamente, se compreende o que lhe dizem. Mas e se pensarmos em como as dificuldades linguísticas afetam aquilo que a criança sente?

Desde cedo, as crianças aprendem a dizer que estão tristes, que têm medo/receio, que não gostam de uma atitude, que estão a ter dificuldades na escola. Essa competência é fundamental para conseguirem pedir ajuda, regular-se e serem compreendidas. No caso das crianças com PDL, esse processo pode estar comprometido. Como têm dificuldade em encontrar as palavras certas, construir frases e/ou fazer-se entender, muitas vezes o que sentem não é dito com palavras, mas com comportamentos como: choro, frustração, birras, afastamento, agressividade.
Estas crianças querem contar que algo correu mal, que alguém as magoou ou que algo as preocupa, mas não conseguem ser explícitas para expor aos pais, avós ou professores o que sentem. Como consequência disso, vários estudos demonstram que essas crianças têm uma maior probabilidade de:
Sentirem frustração frequente, por não conseguirem comunicar como gostariam ou atingir os objetivos escolares que desejam;
Desenvolverem uma autoestima mais frágil, por se compararem com os pares;
Evitarem interações sociais, com receio de não serem compreendidas;
Serem vistas como “mais tímidas” ou, pelo contrário, rotuladas como “mal comportadas”, quando, na verdade, lutam para serem ouvidas e entendidas.
Cerca de dois terços das crianças com PDL (64%) apresentam problemas de comportamento, que podem incluir dificuldades de conduta, agressividade ou conflitos com outras crianças, bem como afastamento, isolamento ou preferência por brincar sozinhas (Conti-Ramsden & Botting, 2004).
O estudo Manchester Language Study constatou que:
aos 16 anos de idade, 40% dos indivíduos com PDL tinha dificuldades em interagir com os colegas (St. Clair, Pickles, Durkin, & Conti-Ramsden, 2011);
50% dos jovens de 16 anos lembram-se de sofrer bullying na infância (comparativamente com menos de 25% dos adolescentes com desenvolvimento típico);
13% sofreram bullying persistente desde a infância (Knox & Conti-Ramsden, 2003);
Adolescentes com PDL têm duas vezes e meia mais probabilidade de relatar sintomas de depressão do que seus pares com desenvolvimento típico.
Como adultos, pais, educadores de infância, professores e/ou terapeutas é essencial que estejamos atentos não só ao que é dito, mas também ao que é sentido e não consegue ser dito.
Uma melhor compreensão da PDL por adultos e pares poderá ajudar a evitar estes efeitos negativos.
A investigação mostra que, com intervenção precoce e apoio adequado, as crianças com PDL podem desenvolver competências sociais e emocionais mais ajustadas. Mas, para isso, é fundamental:
Validar emoções, mesmo quando não são bem expressas verbalmente;
Criar espaços de comunicação seguros e com tempo;
Trabalhar em conjunto: família, escola e profissionais de saúde.
A intervenção em crianças com PDL não se resume a melhorar as suas competências linguísticas, é dar-lhes ferramentas para se compreenderem e para serem compreendidas, ajudá-las a construir relações e a ganhar confiança. Porque quando ajudamos uma criança a comunicar, estamos a abrir caminho para que se possa exprimir, ligar aos outros e sentir-se mais segura no mundo.

A intervenção precoce na PDL pode atenuar os efeitos negativos nas aprendizagens escolares e no bem-estar das crianças, que no futuro serão adultos.
Para mais informações sobre a PDL, pode consultar o site https://radld.org/, onde encontrará conteúdos informativos, testemunhos e diversos recursos sobre esta perturbação.
Elaborado por Bárbara Marques
Consulte aqui a nossa página de Perturbação do Desenvolvimento da Linguagem para mais informações




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