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As dúvidas mais frequentes sobre o uso da chupeta - parte II

Nas vésperas do Dia Mundial da Motricidade Orofacial (a área da da Terapia da Fala que estuda os movimentos relacionados com boca e face) a terapeuta da fala Joana Silva abordou as principais questões que surgem em consultório (e fora dele) sobre o uso da chupeta. Neste post, a Joana responde às três mais frequentes:

1. Qual é a chupeta mais indicada?

2. Utilizar chupeta provoca alterações na fala da criança?

3. Qual é a idade aconselhada para retirar a chupeta?


No post anterior analisámos os benefícios da chupeta e chamámos à atenção para os problemas do seu uso prolongado. Ao decidirem introduzir o uso de chupeta, os pais começam, naturalmente, por querer saber "qual é a chupeta mais indicada?". Chamamos a atenção para alguns factores importantes a ter em conta na hora de escolher a chupeta, que podem minimizar as consequências da sua utilização.


1. Qual é a chupeta mais indicada?

  • A chupeta deve ser leve e de material resistente. O material da tetina poderá ser látex ou silicone, sendo que a escolha do material deverá estar dependente da maturação e organização do padrão de sucção do bebé. As chupetas de látex, por serem mais moles e flexíveis, são recomendadas para bebés que apresentem um padrão de sucção mais fraco e/ou se cansam com mais facilidade. As de silicone, por serem mais duras e, portanto, menos flexíveis, são normalmente recomendadas a bebés com um padrão de sucção bem estabelecido, exigindo uma força de sucção maior.

  • A chupeta deve ter um bico com tamanho ajustado à cavidade oral (boca) da criança e acompanhar o seu crescimento e desenvolvimento maxilofacial. Não se devem basear nas faixas etárias descritas nas embalagens das chupetas, porque cada bebé tem a sua individualidade e o verdadeiro tamanho da cavidade oral pode ainda não corresponder à idade sugerida.

  • A tetina deve ser fina e macia na zona anterior (onde a boca fecha), pois é nessa zona que nascerão os primeiros dentes.

  • O escudo labial deve ser côncavo para possibilitar uma adequada respiração nasal e ter aberturas que facilitem a respiração da pele.

  • Há 3 tipos de bicos:

O bico ortodôntico ou anatómico, que promove uma postura de língua mais posteriorizada, elevada e com menos variações de pressão, semelhante àquela que é adoptada pelo bebé durante a amamentação e que se caracteriza por ter um formato mais achatado, moldando-se melhor dentro da cavidade oral da criança; O bico gota ou fisiológico, que apresenta orifícios de ventilação que possibilitam uma redução da pressão da língua contra o palato (céu-da-boca), proporcionando uma sucção mais fisiológica. Além disso, o facto de a sua base apresentar uma forma côncava faz com que esta se acople melhor à região intra e peri oral do bebé, proporcionando um bom ajuste à cavidade oral; O bico cereja que, por ser um bico largo, potencia a formação de um espaço entre a cara do bebé e a chupeta, não permitindo um vedamento labial adequado, isto é, que os lábios fechem correctamente. Tendo em conta a sua configuração volumosa e redonda, potencia ainda que a pressão exercida origine desajustes nas estruturas orofaciais.


Tendo em conta as características apresentadas, os bicos que poderão ser mais indicados são o bico ortodôntico e o bico gota, por serem aqueles que se adaptam melhor à cavidade oral, promovendo uma melhor postura de lábios e língua durante a sucção. Exemplos de marcas que possuem modelos que reúnem as características acima descritas são a suavinex e a nuk (nuk mam).

Por último, deve evitar-se a utilização de acessórios como as fraldinhas ou os porta- chupetas pendurados na chupeta enquanto esta estiver na boca do bebé, pois estes acessórios exercem um peso acrescido na cavidade oral, tendo os músculos orofaciais, por esse motivo, de exercer uma força maior para a segurar, originando desajustes na musculatura orofacial.



2. Utilizar chupeta provoca alterações na fala da criança?


A maior parte dos encaminhamentos para Terapia da Fala estão relacionados com as alterações de fala propriamente ditas.


Após a realização da avaliação, deparamo-nos, muitas vezes, para além das alterações articulatórias, com alterações estruturais, na oclusão dentária (como as típicas mordidas abertas), na mastigação, na deglutição e na respiração, estando estas questões SIM muitas vezes relacionadas com o uso da chupeta, ou, ainda, com outros hábitos, como a sucção digital (no dedo) ou o uso de biberão.

A gravidade das alterações ósseas, dentárias, musculares e funcionais apresentadas dependerão de fatores como: a duração do uso, a frequência (número de vezes ao dia) e a intensidade do mesmo (duração e força da sucção), bem como a idade até que foi utilizada.


3. Qual é a idade aconselhada para retirar a chupeta?


Deve evitar-se o uso PROLONGADO, INTENSO E FREQUENTE da chupeta.


De forma a minimizar o impacto da sua utilização, caso optem por oferecer chupeta, aconselho a sua retirada no MÁXIMO até aos DOIS ANOS DE IDADE, uma vez que, o seu uso poderá potenciar mais consequências ao nível da mobilidade e força da língua, bem como do formato da cavidade oral (formando a tipicamente chamada “boca de chupeta”) e, consequentemente, do modo respiratório e da fala da criança. Assim, quanto mais cedo ocorrer a eliminação deste hábito, maior a probabilidade de evitar ou atenuar as possíveis alterações que daí possam decorrer.

Joana Silva, Terapeuta da Fala


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