Gonçalo Carvalheda

6 de out de 20215 min

O papel do Terapeuta da Fala na aprendizagem da leitura e da escrita

Neste início de ano lectivo, Nicole Agrela, terapeuta da fala e Directora do projecto SpeechCare Schools, lançou a Consulta de Leitura e Escrita, na clínica de Lisboa.

Durante esta semana, que coincide com a Semana da Dislexia, publicaremos, no nosso website, um conjunto de artigos que explicam de que forma esta consulta de leitura e escrita pode ser fundamental para que as crianças que se deparam com dificuldades de aprendizagem possam, o mais rápida e sustentadamente possível, ultrapassá-las e acompanhar os restantes colegas, num percurso escolar bem-sucedido e feliz.

Serão publicados três artigos que analisam estas dificuldades e que providenciam estratégias que ajudarão a complementar o trabalho do Terapeuta da Fala. O primeiro destes artigos incide na identificação de dificuldades de aprendizagem em crianças do pré-escolar; o segundo aborda o papel do Terapeuta da Fala e incide na intervenção com crianças até aos 5 anos de idade; o terceiro foca-se na progressão contínua das aprendizagens, centrando-se nas crianças de idade igual e superior aos 6 anos. Publicaremos também um artigo a celebrar o Dia Mundial da Dislexia, que ocorre a 10 de Outubro.

Hoje, publicamos o artigo “O Papel do Terapeuta da Fala”, em que se especifica que, no caso concreto das dificuldades de aprendizagem, consiste em “prevenir, avaliar e intervir na compreensão e na expressão da linguagem oral e escrita (leitura e escrita)”. Como indicado, este artigo aborda estratégias para ajudar as crianças até aos 5 anos de idade.

O Papel do Terapeuta da Fala

No que diz respeito à aprendizagem da leitura e escrita, o papel do Terapeuta da Fala é o de prevenir, avaliar e intervir na compreensão e na expressão da linguagem oral e escrita (leitura e escrita). Este artigo é composto por estratégias directas de intervenção com crianças até aos 5 anos de idade.

  • Tente que ao longo da conversação se respeite a tomada de vez na conversa “ora falo eu, ora falas tu”;

  • Fale com a criança de forma clara e sem pressa;

  • Dê ordens/instruções de forma clara. Caso seja uma ordem mais complexa e que a criança não esteja a conseguir executar dividir a ordem por partes;

  • Utilize imagens para exemplificar o significado de uma palavra desconhecida para a criança;

  • Utilize novas palavras várias vezes durante a conversação;

  • Durante a conversação devolver à criança, de forma correta, as palavras mal pronunciadas e /ou “abebezadas”;

  • Questione a criança com questões abertas p. ex: “O que é que tu achas que aconteceu? “Porque é que tu achas que este comportamento não está correto?”;

  • Escolha a imagem de um objeto/fruta e faça perguntas sobre o mesmo:

    - “O que é?

    - “Onde podemos encontrar?”

    - “Para que serve?”

    - “Quem pode utilizar/comer?”

    -“Quantos bocadinhos (sílabas) tem a palavra? – Vamos contar e dizer o nome de cada bocadinho”; “Qual é o nome do 1º bocadinho da palavra? Vamos pensar rapidamente em coisas que iniciem com esta sílaba”;

    - “Agora vamos pensar em mais nomes de frutas/objetos/meios de transporte/profissões…”;

    - “É amargo ou doce?” “É pequeno ou grande?”.

  • Mostre imagens dos animais e imite os seus sons, posteriormente, faça o som do animal e peça à criança para apontar para qual dos animais corresponde. Aponte para o animal e peça para que a criança realize o som;

  • Aproveite o momento da leitura para:

    - Perguntar, por exemplo, onde está determinado objeto/fruta/animal na imagem – espere que a criança aponte para a imagem correspondente;

    - Aponte para determinada imagem e peça à criança que diga o nome;

    - Pedir para recontar ou responder a questões simples: “Quem? O que? Onde? Quando? para ajudar na organização das ideias;

    - Incentivar à descrição das imagens que vão aparecendo ao longo do livro;

    - Pode tentar que a criança preveja o final da história;

    - Pedir para organizar uma história simples (início, meio e fim);

    - Antecipar o final, discutir a moral da história, refletir sobre os acontecimentos).

    - Faça jogos de associação, ou seja, associe animais, frutas, objetos à sua imagem.

    - Aproveite o tempo da preparação do jantar e deixe o seu filho ajudar. Falem acerca dos alimentos e do que usam para preparar a refeição;

    - Escolha um item que esteja no espaço à sua volta e descreva-o utilizando várias características até a criança adivinhar (ex.: Eu vejo… um brinquedo, redondo, preto e branco que serve para chutar) – Posteriormente, peça à criança para fazer o mesmo – descrever algum item para tentar adivinhar o que é;

    - Dentro de um tema escolhido, dizer palavras que se relacionem (por exemplo: “Praia” ---> areia, mar…);

  • Jogue com a criança as categorias semânticas (por exemplo: vestuário, frutas, instrumentos musicais, etc.):

    - Faça jogos de evocação como por exemplo “vamos pensar em nomes de transportes, frutas, instrumentos musicais”;

    - Faça jogos para a criança identificar (como por exemplo “onde está um transporte que anda na estrada?”);

    - Escolha uma categoria (ex.: animais, móveis, etc.) e peça à criança para encontrar 10 itens dessa categoria no menor espaço de tempo possível.

  • Realizem jogos para estimular a expansão frásica “A Joana vai ao supermercado…….” pedir à criança para dar continuidade à frase;

  • Poderá fazer o jogo em que a criança é o professor, dizendo frases gramaticalmente incorretas para a criança reconhecer o erro e, posteriormente, corrigir (por exemplo: “Eu comi duas cenoura”; “Amanhã fui à praia”; “A menina bebe a maçã”; “O menino veste o vestido”; A Joana é minha irmão”).

    - Jogos com rimas (p. ex. descobrir qual é a palavra que rima com caracol: cão, sol, coelho; sem apoio visual dizer palavras que rimem com determinada palavra/imagem);

    - Dividir as frases em palavras (p. ex. “A menina come a maçã”) e descobrir quantas palavras tem a frase; dividir as palavras em sílabas (p. ex. descobrir quantos “bocadinhos” tem a palavra /menina/ e /maçã/ e dizer o nome de cada sílaba; descobrir quais são as palavras curtas e as compridas (p. ex. descobrir qual a palavra mais curta, se é /menina/ ou /maçã/);

    - Manipular as sílabas de uma palavra (p. ex. descobrir o que acontece com a palavra /cebola/ quanto tiramos a sílaba /ce/; o que acontece quando acrescentamos o /a/ antes de /braço/; descobrir como fica a palavra se trocarmos as sílabas de /lama/; o que acontece se na palavra /mala/ trocarmos a sílaba /ma/ por /pa/);

    - Identificar a sílaba inicial das palavras (p. ex. descobrir qual a palavra que tem a sílaba /pa/ igual à de /palhaço/: morango, panela, boneca);

    - Dizer palavras pela sílaba inicial (p. ex. dizer palavras começadas pela sílaba /pa/);

    - Identificar o som inicial das palavras (p. ex. descobrir quais são as palavras que têm o som /v/ igual a /veado/: vaca, faca, vidro);

    - Dizer palavras começadas por determinados sons (p. ex. dizer palavras começadas pelo som, por exemplo, /ssss/, /zzzz/, /vvvv/, /ffff/, /xxxx/, /jjjj/).

Nicole Agrela,


 
Terapeuta da Fala, Coordenadora do SpeechCare Schools e da Consulta de Leitura e Escrita, Doutorada em Ciências da Cognição e da Linguagem pela Universidade Católica Portuguesa

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